O perfil radiográfico cefalométrico é um
exame habitualmente utilizado no diagnóstico,
visualização e controlo de tratamento das dismorfias
craniofaciais.
Obtida em condições especiais, esta imagem
tem a particularidade de se poder observar
nela simultaneamente estruturas com radiolucências
distintas.
Ao ser captada em condições standard, e
existirem parametrizadas as medidas norma
para as diferentes estruturas craniofaciais, esta
imagem presta-se à análise e comparação sempre
com referência aos desvios da norma.
Trata-se ainda de um meio de diagnóstico
de fácil acesso, barato, manuseado com baixas
doses de radiação e de fiabilidade comprovada.
Pela análise cefalométrica desse Rx e mediante o uso de medidas angulares, lineares
ou cálculo de áreas, podem obter-se medidas
da base do crânio, posição relativa de
ambos os maxilares, do osso hioide e de todas
as estruturas cranio-cervico-faciais, incluindo a
inclinação da charneira occipito-vertebral.
Também os tecidos moles que delimitam o
espaço aéreo da faringe podem ser visualizados
e medidos bem como as dimensões da língua,
espessura e comprimento do palato mole
e úvula e respectivas vias áreas.

Alterações anatómicas às normas angulares
ou lineares dessas estruturas que concorram
para o estreitamento das vias aéreas superiores (VAS) podem predispor
o paciente à síndrome da apneia obstrutiva do
sono.
Algumas dessas alterações têm sido através
deste meio de diagnóstico, sistematicamente investigadas,
no sentido de ser encontrada a sua
ligação à gravidade da doença.
Assim alguns autores utilizando a análise cefalométrica,
puderam encontrar diferenças significativas
entre a área da faringe em pacientes
com SAOS e uma população controle .
Enquanto nos primeiros a área encontrada era
de aproximadamente 3,7 cm2, nos indivíduos
sem evidência desta patologia era de 5.3 cm2.
Diferenças significativas foram também
encontradas no comprimento do palato mole,
que em apneicos media em média 48 mm,
enquanto em indivíduos controlo se ficava
pelos 35 mm.
Entre outras alterações sabe-se que o acentuado
aumento do comprimento e do volume
do palato mole, contribui decisivamente, para
a redução do calibre da naso e orofaringe, o
seu efeito volumétrico promove um maior contacto
entre este e a língua, e quando associado
ao decúbito concorrem para obstrução a esse
níveil 5 .
Também numerosos estudos têm comprovado
a influência das alterações esqueléticas craniofaciais
nas dimensões das VAS. Condicionado pela projeção sagital dos
maxilares, o lúmen da faringe é seguramente,
o principal segmento respiratório que nos
pacientes SAOS interessa investigar.
A duas dimensões, utilizando este exame,
pode medir-se o espaço aéreo posterior, ou
seja, as distâncias entre a parede posterior da
faringe, a base da língua ou a vertente posterior
do palato mole a diversos níveis.
Tal como em anatomia, nessa região podem
ser considerados três segmentos: o espaço aéreo
superior (situado entre a parede posterior
da nasa-faringe e o contorno posterior do palato
mole, ao nível do plano palatino); o médio
(situado entre a parede posterior da oro-faringe
e o limite posterior da úvula); e o inferior
(entre a parede posterior da hipo-faringe e a
base da língua, ao nível do plano mandibular).
Estudos têm comprovado uma evidente redução
desses espaços aéreos em alguns pacientes
com SAOS.
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Paciente prognata de mandíbula, notar espaço aéreo normal. |
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Paciente retrógnata de mandíbula , notar redução do espaço aéreo. |
A potência da hipofaringe é altamente condicionada, na sua parede anterior, pela musculatura ancorada no osso hioide. Por isso, determinar a posição desta estrutura anatómica é de fundamental importância na procura de estreitamentos. Assim constatou-se que, enquanto em indivíduos saudáveis o perfil do corpo deste osso se encontra situado ao nível das vértebras cervicais C3-C4, nos pacientes com SAOS encontra-se frequentemente deslocado caudalmente. Podendo resumir-se, na análise cefalometrica de um paciente com SAOS encontram-se frequentemente as seguintes alterações: um maxilar superior pequeno, bem como uma mandíbula pequena, sobretudo ao nível do seu corpo, estando estes frequentemente retro-posicionados. Uma altura facial anterior aumentada e habitualmente discrepante em relação à posterior, levando a que o plano occlusa e o plano mandibular se encontrem demasiado inclinados, condicionando caracteristicamente faces divergentes.

A análise cefalométrica é um meio complementar
de diagnóstico que, apesar de algumas
limitações, reúne amplos benefícios no
estudo dos pacientes com SAOS, sendo por
isso, um exame imprescindível no estudo completo
desta doença.