quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ANÁLISE CEFALOMÉTRICA NO DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO DA SAOS

O perfil radiográfico cefalométrico é um exame habitualmente utilizado no diagnóstico, visualização e controlo de tratamento das dismorfias craniofaciais. Obtida em condições especiais, esta imagem tem a particularidade de se poder observar nela simultaneamente estruturas com radiolucências distintas. Ao ser captada em condições standard, e existirem parametrizadas as medidas norma para as diferentes estruturas craniofaciais, esta imagem presta-se à análise e comparação sempre com referência aos desvios da norma. Trata-se ainda de um meio de diagnóstico de fácil acesso, barato, manuseado com baixas doses de radiação e de fiabilidade comprovada.
Pela análise cefalométrica desse Rx e mediante o uso de medidas angulares, lineares ou cálculo de áreas, podem obter-se medidas da base do crânio, posição relativa de ambos os maxilares, do osso hioide e de todas as estruturas cranio-cervico-faciais, incluindo a inclinação da charneira occipito-vertebral. Também os tecidos moles que delimitam o espaço aéreo da faringe podem ser visualizados e medidos bem como as dimensões da língua, espessura e comprimento do palato mole e úvula e respectivas vias áreas.

Alterações anatómicas às normas angulares ou lineares dessas estruturas que concorram para o estreitamento das vias aéreas superiores (VAS) podem predispor o paciente à síndrome da apneia obstrutiva do sono. Algumas dessas alterações têm sido através deste meio de diagnóstico, sistematicamente investigadas, no sentido de ser encontrada a sua ligação à gravidade da doença. Assim alguns autores utilizando a análise cefalométrica, puderam encontrar diferenças significativas entre a área da faringe em pacientes com SAOS e uma população controle . Enquanto nos primeiros a área encontrada era de aproximadamente 3,7 cm2, nos indivíduos sem evidência desta patologia era de 5.3 cm2. Diferenças significativas foram também encontradas no comprimento do palato mole, que em apneicos media em média 48 mm, enquanto em indivíduos controlo se ficava pelos 35 mm.

Entre outras alterações sabe-se que o acentuado aumento do comprimento e do volume do palato mole, contribui decisivamente, para a redução do calibre da naso e orofaringe, o seu efeito volumétrico promove um maior contacto entre este e a língua, e quando associado ao decúbito concorrem para obstrução a esse níveil 5 . Também numerosos estudos têm comprovado a influência das alterações esqueléticas craniofaciais nas dimensões das VAS. Condicionado pela projeção sagital dos maxilares, o lúmen da faringe é seguramente, o principal segmento respiratório que nos pacientes SAOS interessa investigar.

A duas dimensões, utilizando este exame, pode medir-se o espaço aéreo posterior, ou seja, as distâncias entre a parede posterior da faringe, a base da língua ou a vertente posterior do palato mole a diversos níveis. Tal como em anatomia, nessa região podem ser considerados três segmentos: o espaço aéreo superior (situado entre a parede posterior da nasa-faringe e o contorno posterior do palato mole, ao nível do plano palatino); o médio (situado entre a parede posterior da oro-faringe e o limite posterior da úvula); e o inferior (entre a parede posterior da hipo-faringe e a base da língua, ao nível do plano mandibular). Estudos têm comprovado uma evidente redução desses espaços aéreos em alguns pacientes com SAOS.

Paciente prognata de mandíbula, notar espaço aéreo normal.
Paciente retrógnata de mandíbula , notar redução do espaço aéreo.

A potência da hipofaringe é altamente condicionada, na sua parede anterior, pela musculatura ancorada no osso hioide. Por isso, determinar a posição desta estrutura anatómica é de fundamental importância na procura de estreitamentos. Assim constatou-se que, enquanto em indivíduos saudáveis o perfil do corpo deste osso se encontra situado ao nível das vértebras cervicais C3-C4, nos pacientes com SAOS encontra-se frequentemente deslocado caudalmente. Podendo resumir-se, na análise cefalometrica de um paciente com SAOS encontram-se frequentemente as seguintes alterações: um maxilar superior pequeno, bem como uma mandíbula pequena, sobretudo ao nível do seu corpo, estando estes frequentemente retro-posicionados. Uma altura facial anterior aumentada e habitualmente discrepante em relação à posterior, levando a que o plano occlusa e o plano mandibular se encontrem demasiado inclinados, condicionando caracteristicamente faces divergentes.


A análise cefalométrica é um meio complementar de diagnóstico que, apesar de algumas limitações, reúne amplos benefícios no estudo dos pacientes com SAOS, sendo por isso, um exame imprescindível no estudo completo desta doença.